16/12/09

tá-se bem

Aconselho vivamente o autocarro para o trabalho. É o rever das mesmas caras, pontualmente, até se tornarem amizades silenciosas, cúmplices da manhã. Hoje era uma bolha a flutuar no nevoeiro, e nós lá dentro a adivinhar o Tejo invisível, num conforto sonolento, quase a esquecer-me de mim e ... por encanto, ditada pela batuta de um maestro ausente, uma polifonia: "na ponte, sim, na ponte", "se deixares de ouvir é que estou a ficar sem rede", "tá-se bem", "ouves, ouves?", gritava-me ao ouvido. Olhámo-nos, olhos nos olhos, mas os dele olhavam para longe, todos olhavam para longe, como velhos loucos a gritar nos montes.

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